11 de junho de 2011

em flannery o'connor, o céu nunca é somente o céu

(claro, na tradução de J. R. O'Shea, Editora Siciliano, 1991)


do conto "Salve sua própria vida":

"A lua gorda e amarela apareceu nos galhos da figueira, como se fosse se empoleirar ali com as galinhas."

do conto (frase final) "Um templo do Espírito Santo":

"O sol era uma imensa bola vermelha, como uma hóstia elevada, encharcada de sangue, e quando afundou, desaparecendo de vista, deixou uma linha no céu, como uma estrada de barro vermelho boiando acima das árvores" 

(essa merece que eu busque o original. Ei-lo!)

"The sun was a huge red ball like an elevated Host drenched in blood and when it sank out of sight, it left a line in the sky like a red clay road hanging over the trees."

do conto "O rio":

"Ao pé da colina, a mata se abria bruscamente em um pasto salpicado aqui e ali com vacas de pêlo preto e branco e que descia, nível por nível, até chegar a um riacho largo e alaranjado, no qual o reflexo do sol se sobrepunha como um dinamite."

do conto "O círculo no fogo":

"O sol queimava tão avidamente que parecia disposto a atear fogo em tudo que estava à vista"

novamente, o conto "O círculo no fogo":

"A menina se embrenhou pela mata, e as folhas caídas soavam ameaçadoras sob seus pés. O sol subira ligeiramente e não passava de um buraco branco em um céu escuro, como uma abertura por onde o vento podia fugir, e os topos das árvores eram negros em contraste com o clarão."


-------------


É claro que a leitura desses trechos é bem diferente se inserida dentro do contexto dos contos...

(Aliás, é interessante como em muitos desses contos, a metáfora do céu (na verdade, o sol, a lua, as nuvens) está intimamente ligada aos enredos. Caso da metáfora de "o círculo no fogo", conto que termina com uma cena piromaníaca, ou ainda a metáfora de "um templo do espírito santo", no qual a descrição do sol feita pelo narrador, "como uma hóstia ensanguentada", dialoga com uma cena anterior, na qual a protagonista observa um padre erguer a hóstia.)

mas a intenção foi mostrar a alta carga metafórica do texto da flannery.
e que carga.

2 comentários:

Regina Carvalho disse...

Como sou também muito nessas coisas da natureza, AMEI o realce que deste a esses trechos.Dava um bom artigo! bj

Enzo! disse...

eu preciso fazer uma seleção da Woolf descrevendo a natureza!